segunda-feira, 12 de julho de 2010

por ruas passadas

As ruas estavam meio vazias, era Domingo afinal e a cidade costumava ficar assim ausente de vidas, cheia de energias sobrevoando um céu livre de definições, mesmo nublado. Ia dividindo os passos com a própria sombra que tinha pressa, apenas pressa. Poucos carros marcavam a velocidade, isso era até bom, estar situado ali naquele vácuo ostensivo. Talvez pensasse em alguma coisa, em alguém. Ou talvez não pensasse. Mas pensava que não pensava e se sentia livre pra pensar qualquer coisa. Tinha em mente algumas vagas lembranças de um ontem irreal, tudo o que era passado não parecia de verdade para ela, eram sonhos distantes até mesmo dela. Só o agora o afetava, depois, ou antes, nada mais sentia. Achava ruim por alguns instantes, até o momento em que virassem passado. Depois, nada. E naquele instante, pensando nisso, percebeu que estava sozinha, por dentro. Até se lamentaria, mas estava sozinha. Algumas mesas desocupadas no canto da calçada deram lugar a uma solidão de Domingo, e ainda nem era noite. Olhava a rua quase sem movimento e suas mãos cansadas da semana, podia sentir uma dor física tornando reais aqueles dias de trabalho. E só. Pensava sem desesperos nos incômodos presentes, como poderia ser uma companhia agradável se não estava bem? E como ficaria bem se ninguém estava ali pra segurar aquela mão calejada? Dificil de entender. Só saem nos finais de semana com sorrisos, é um pré-requisito bastante importante, deveria saber disso ou ficar em casa. Às vezes até ficava em casa esperando por qualquer um que trouxesse algum sorriso usado, mas traziam sempre restos e durava tão pouco que mal dava pra pensar em causar boas impressões como recompensas. Então preferia sair por ai, despida de sensibilidades, sorrisos ou lágrimas, rodando pela cidade sem outros risos ou piedades. Não, não era uma boa companhia, nem poderia ser, já que dependia até mesmo de um espelho pra refletir qualquer traço bom. Sem companhia, voltava pra casa sem pressa pelas ruas mais vazias ainda das noites de Domingo. E pensava, talvez até gostasse da sua liberdade inútil.

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